Se em mim só restar a desventura,
Saibas que mesmo assim a esperança ainda perdura
Se o desanimo me abater neste momento
Há ainda em mim a linda visão do firmamento.
Se em ti não restar boa lembrança,
Saibas que em mim escrever não me cansa
Pois enquanto houver em mim ternura
Terei forças para moldar minha criatura.
Minha criatura são versos escritos
Em dia claro ou noite escura
Quando andei proscrito
Atrás de uma bela figura.
Se porventura meu tormento ainda dura,
Nada mais então me resta
Rio de escárnio nesta
Vejo em meus devaneios tua carne nua.
Há que sentir-me um jumento
Se sem bons sentimentos
Vir-me despojado.
Estarei pelos céus condenado!
Se a musa que me inspira me abandona
A triste saudade torna-se minha dona
Ah, flor do Lácio onde estás?
Não te esquecerei jamais.
Mas se a dor do meu tormento
Levar minha nau ao fundo abismo
Tomarei tanto absinto
Que não lembrarei do sofrimento.
Se a luz da linda dama
Fizer em mim brotar a velha chama
Sorrindo verei o sol nascente
Nova poesia virá surgir em minha mente.
Quero me perder no mar
Que é tão bravio quanto fascinante
Para minha amada enfim beijar
Como herói de epopéias triunfante.
Se o mundo do poeta
Às vezes é profundo e triste
Não temas tu que és tão bela
Porque o amor existe.
Mas se no poeta a tristeza mostrar-se persistente
Ainda há nele alegria escondida
Que embora recolhida
Por ti se faz presente.
Se o simples mortal em mim
Morrer em ti sem direito a um caixão
Reserva ao poeta um pequeno jardim
No fundo de teu coração.
Se o poeta em seu vôo foi distante
Queimando suas asas na imprudência
Jamais ele foi a tal ponto ignorante
A não reconhecer a tua inteligência.
Se uma vida vai-se embora como vela
Pode ser também uma flor que é bela
Que sejas então uma flor em sua beleza
A mais bela flor da natureza.
Agora me despeço que é madrugada
Para ti escreveu o poeta em sua última jornada
Que a manhã venha cheia de felicidade
Tão bonita e muito iluminada!
Márcio Rodrigues - 20/03/2011