Ó velha e frondosa amiga,
Contemplo em dor teu cruel destino,
Quantas vezes conversamos sem palavras
Sorrimos e choramos sem lágrimas visíveis.
Quando eu me sentava junto a ti,
Não me sentia sozinho
Com a tua companhia.
Lembro-me que eu queria
Ser tão poderoso e altivo
Como tu eras!
Mas eis que a força do rio
É como a corrente da História,
Derrubando soberanos
Que tropeçaram vaidosos em sua grandeza.
Perdeste tua última batalha contra as águas
Que somente, tão somente seguiam seu caminho.
Agora vejo teu cadáver imponente
A despertar espanto em seres humanos curiosos,
Misto de pena por tua perda
De frustração pela impotência
E admiração em ver tal gigante abatido.
Velha senhora meu coração está ferido,
Desta vez minhas lágrimas são visíveis!
Márcio Rodrigues
Abril de 1995
* Homenagem a uma frondosa samaumeira, que ficava no campus universitário da Universidade Federal do Pará, em Belém, que tombou pela força das águas do Rio Guamá. Ela ficava próxima ao rio e o rio acabou levando a margem e derrubando a árvore.