A história que irei contar aconteceu com uma comadre da minha avó.

Dona Maria José tinha 10 filhos, era uma mulher muito trabalhadeira. De dia lavava roupa para fora  e à noite costurava para aumentar sua renda. 

Há muitos anos,  dona Zezé, como era chamada, estava abarrotada de costura.  Era fim de maio. Havia pegado de última hora uma encomenda grande de roupa de uma quadrilha junina inteira . A filha mais velha era Mara, que na época estava com 23 anos e ajudava na tarefa fazendo alguns acabamentos. Dona Zezé tinha prazo curto para a entrega das roupas. Mara disse que era muito trabalho para pouco tempo e só com elas duas quase não sobrava tempo para cuidar do marido e dos filhos.  Faltando uns 3 dias para  entrega das roupas Mara precisou parar para cuidar do filho doente e disse para a mãe que chamasse Dona Alice, sua comadre (minha avó).

Assim aconteceu. Dona Zezé costurava feito  louca, quase não se alimentava. No primeiro dia, quando  já eram 12 horas, vovó disse:

-Comadre, vamos que estou com dor nas costas. Amanhã pegamos cedo.”

Dona Zezé respondeu:

- “Não, você pode ir se quiser, mas eu fico aqui. Preciso acabar!”

-“Comadre, tem hora para tudo”- Disse a vovó.

-“Faltam  só 3 dias para entrega comadre. É  um bom dinheiro.   Eu vou ficar aqui pode ir dormir”.

-“Comadre, temos que respeitar a hora dos outros. Já é tarde demais.”

  No dia seguinte dona Zezé falou:

-“ Comadre, você ouviu aquela barulheira de madrugada ?”

-“Por que mulher? O que era? foi briga na rua foi?”

Disse a vovó.

Dona Zezé respondeu:

“-Sei lá! Passava de 1 hora da manhã, eu quase fui ver o que era, mas estava com pressa para costurar que não quis parar.”

No cair da noite, do mesmo dia, já passava das 11 e  vovó disse:

“ Comadre,  vou deitar, não aguento mais.”

 Dona Zezé ficou brava e disse:

-“ Não!  Vamos amanhecer comadre! De manhã você dorme.”

- Vovó armou a rede e disse: 

-“Vou é  dormi!   Não vou ficar rica (rsrs)!

Quando já passava das 12 horas, Dona Zezé ouviu o mesmo barulho da noite passada, levantou-se e chamou a vovó:

-“Comadre acorda tá escutando isso?”

Vovó disse:

“ Eu não nadica de nada. Por que?”

Dona Zezé:

“-Tem gente falando alto na rua!”

Vovó disse:

“Vai dormir mulher! “

Virou-se de lado e voltou a dormir.

Dona Zezé foi em direção à janela, abriu uma pequena fresta e ficou olhando.  De repente, viu uma enorme procissão de gente ,crianças, velhos etc, todos com velas nas mãos acesas. Ela ficou olhando as pessoas, que  rezavam e falavam coisas que não conseguia entender. Ela abriu  mais uma banda da janela e ficou olhando  quando o último da procissão passou, parou em sua janela, deu um sorriso e disse:  

- "O que a senhora faz na janela a esta hora? Tome, já que está aí, guarde esta vela. Amanhã eu pego nesta mesma hora.”

Dona Zezé  pegou a vela e guardou na gaveta da estante e pela manhã contou o acontecido à comadre. À noite, na mesma hora, quando a procissão passou o homem parou e ela já estava na  janela  e   pediu a vela:

- "Me devolva o que a senhora guardou ontem.”

Ela foi pegar. Na hora de entregar ao homem, percebeu que era um osso de um braço, deu um grito forte de pavor e o homem disse:

- "Isso é para você deixar de ser curiosa e respeitar a hora de penitência dos mortos.”

Dona Zezé caiu para trás, ficou assombrada e nunca mais ficou trabalhando fora de hora e muito menos olhando o que se passava na rua  fora de hora.

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Estão vendo? Isto serve de alerta para quem põe  o dinheiro em primeiro lugar e deixa de respeitar a hora alheia (rsrs).