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Conto - O Choro
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Esta história aconteceu há muitos anos atrás, quando minha avó Alice era adolescente. Ela tinha uns 14 anos, morava no interior do estado, um lugar muito humilde, atrasado.  Naquela época,  virgindade era tabu. Filho sem pai pior ainda. Vó Alice fez amizade com Lúcia, uma moça que havia acabado de chegar ao lugarejo. Lúcia era bonita,  morena jambo, olhos grandes, cor de mel ,corpo escultural. Sua família era muito humilde . Lúcia fez amizade com a filha do capataz da fazenda próxima, Marta.

Com pouco tempo de amizade e elas três iam de um lugar a outro, tomavam banho juntas no rio etc. O pai de Lúcia era lavrador e faleceu deixando os 6 filhos órfãos. Lúcia precisou trabalhar para ajudar  na despesa de casa, então pediu à Marta que arrumasse emprego na fazenda onde sua família morava e trabalhava.  Marta conseguiu se empregar como babá na sede central da fazenda quando Lúcia já tinha  seis meses no trabalho. Nessa época, Márcio, o filho do patrão, que havia  ido estudar em outro estado  retorna.  Era um  rapaz alto , forte, olhos claros muito falante  e galanteador

Logo que ele conheceu Lúcia, ficou encantado com sua beleza rústica. Ela, porém, muito tímida, nunca havia conhecido esse rapaz tão bonito. Ele era diferente dos rapazes que ela conhecera  logo no início.  O rapaz começou  a jornada de conquista. Menos de dois meses os dois já estavam namorando escondidos. Márcio sempre investia sobre Lúcia e ela, mesmo apaixonada, não cedia. Mas, com passar dos meses, a moça já a muito apaixonada não resistiu e cedeu às contínuas investidas de Márcio e eles ficaram juntos algumas vezes.  Lúcia não contara nada nem para suas amigas Alice e  Marta. 

Depois de algum tempo ela engravidou, ficou apavorada, chamou o rapaz e contou  tudo. Ele, porém, não quis saber do assunto e terminou tudo com ela. Lúcia, sozinha, sem saber o que fazer como contar  para sua mãe. Como reagiria  ela ? Márcio sendo pressionado pela moça, contou ao seu pai que rapidamente tratou de mandar Lúcia embora do emprego e mais que depressa inventou um noivado de seu filho com uma moça, filha de um amigo fazendeiro.  

Lúcia que já tinha dois meses de gravidez, desesperada e sem saída, com muito medo, procurou uma índia, velha curandeira,  que morava na mata. Contou-lhe tudo e pediu sua ajuda para o aborto. Pois, em seu desespero e ignorância, achou esta a melhor saída. A índia velha, Matubira  era seu nome,  fez um unguento e uma pajelança,  mandou que Lúcia tomasse uma poção em uma noite de sexta feira e disse  a hora de tomar. Disse que deveria tomar e que teria que ficar na beira do rio para esperar o resultado.   Ressaltou que a moça teria que cumprir todo um ritual de pajelança para conseguir o que queria duas horas depois.

Lúcia sentindo muita dor, suando frio, pôs o feto pra fora  do útero.  Era um menino que ela deu o nome de Zinho . Lúcia pegou-o e colocou em um saco com uma pedra,  jogando no rio para que afundasse. Ela fez tudo escondida. Ficou doente, abatida, chorava muito, ninguém  sabia o motivo. Passados meses do acontecido, toda sexta, no mesmo horário, de madrugada, no silêncio da noite, ouvia-se um  choro de criança pequena que aumentava a cada minuto, com algum tempo e depois parava, ficando o  silêncio.  Na época não havia não havia iluminação no lugar e também haviam nascido algumas crianças no local  e ninguém deu bola para os choros. Por fim, como o povo do interior é cheio de superstições , medo etc, ninguém nunca foi saber o que era ou quem.

Ouvia-se uma canção de ninar de vez em quando e o povo sabia que vinha do igarapé que ficava próximo.   Mas ninguém se habilitava a ir lá. Depois de algum tempo,  mudou-se para o lugar,  Dona Joana, uma mulher de fora,  muito intriguenta, curiosa, e fofoqueira.  Quando ela começou a ouvir os choros e tudo mais,  cuidou de perguntar quem era a criança  que chorava à noite. No entanto, não conseguiu descobrir, pois ficou matutando, pois a criança só chorava na sexta e também não havia  recém-nascido  próximo, já que os que estavam perto  eram grandinhos.  A mulher perguntou, fofocou  até que soube que isso já acontecia há tempos, só que ninguém quis investigar. O povo do interior acredita em assombrações , mula sem cabeça etc.

A velha então ficou na butuca. Em uma sexta feira, chamou o marido  e disse:

- “Hoje descubro que diabo de choro é este vindo do rio.”

Pegou um lampião, um terçado, e foi com o marido. Ficou lá, no meio do mato, escondida, até que adormeceu. De repente, acordaram  quando  ouviram o choro da criança. Então olhou para o outro lado. Eis que uma pessoa se aproxima, vestida de roupas de dormir  até chegar á beira do rio . A velha se aproximou com o marido,  bem devagar, sem fazer barulho algum, percebendo que a moça ajoelhava-se na ponte,  pegando algo de dentro do rio.  A velha chegou perto e viu que era um bebê.  A moça, que era a Lúcia,  amamenta-o  canta uma canção de ninar e o bebê cala-se. Depois a moça o punha de volta ao rio, ele afundava e ela retornava por seu caminho. A mulher ficou apavorada com o que viu.  A moça parecia estar em transe, pois  não percebeu a presença da mulher e do marido a observando.

Pela manhã a mulher espalhou o que vira,  só não sabia dizer quem era a moça. Porém, viu que ninguém lhe dava atenção.  Ela reuniu umas pessoas e disse que iria provar o que dizia.  Foram  lá para o  rio e fizeram tudo como antes. Quando Lúcia pegou o  bebê para  alimentá-lo e cantando   sua canção de ninar  eis que todos foram ao seu encontro e fizeram  uma confusão. Repentinamente, Lúcia, que parecia estar em transe, acorda  pergunta o que todos e ela faziam no rio naquela hora.  A senhora contou tudo à Lúcia.  Eis  que ela danou-se a chorar e disse tudo  o que havia feito.  Sua mãe, que estava presente, compadeceu-se de sua dor e pediu aos pescadores  que mergulhassem e tentassem encontrar os restos da criança para dar um enterro digno a ela. Porém, depois de tanto tempo procurando, não foi possível achar algo. Então, sua mãe pediu ao padre para dar um enterro simbólico ao bebê.  Desde então o choro acabou e Lúcia de tão envergonhada foi embora do lugar,  nunca casou-se e dedicou-se a  cuidar de crianças de orfanato, falecendo com 83 anos, há cinco anos atrás

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 Na hora do desespero, antes de procurar a saída que você acha que seja a única, procure Deus, pois Ele nunca a deixará na mão!

 

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